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Abre aspas, porque as mães querem falar!

As diferentes perspectivas da maternidade contadas através de crônicas. Escrito por: Manuella Koehler, Catharina Alvarez, Francieli Baumgarten e Jaqueline Alves.


Foto: Freepik

Sou Jovem. Sou Mãe 

Ser mãe jovem foi assustador, com meu futuro planejado, terminando o Ensino Médio e me preparando para a faculdade. É como embarcar em uma montanha russa emocional, onde momentos de alegria e amor podem ser de incertezas e questionamentos.

Vida de mãe? Carreira? Críticas?

Tornar-me mãe nova fez com que eu encarasse muitos desafios. Olhar ao redor e perceber que pessoas da minha idade estavam tranquilas e seguindo a vida. E eu? Me senti amadurecendo. Minha vida mudou, minha rotina e planos agora não eram para uma pessoa, mas sim para duas. Eu e meu filho.

Nem sempre é  fácil conciliar tudo. Com o passar do tempo, houve momentos que eu senti parte da minha vida “incompleta”, que nem tudo sai como eu planejo. Aprendi a lidar com isso de forma mais leve. Desde muito cedo, tive que ser forte, minha própria base. A maternidade foi um desafio que vivenciei. Eu aprendi a aceitar que está “tudo bem” não dar conta de tudo ao mesmo tempo. No fim, tudo se encaixa.

“Sou muito mais ‘feliz’ assim”.

Quantas mulheres viram mãe na adolescência? Quantas mulheres precisam mudar suas rotinas? Quantas mulheres largam o estudo para se dedicar ao seu bebê? Sim, podemos encontrar muitas mulheres nessa citação. E com isso, vem as críticas, muitos me olharam com olhares diferentes. Ou me questionaram com preocupação como vou conseguir ter um futuro com um filho. Me lembro das vozes que me questionavam, dos olhares de julgamentos, “acabou com sua vida”, eles dizem.

Qual será a sensação de gerar uma nova vida?

Incrível. Essa é a sensação que tenho quando vejo meu filho. Cada risada sua me lembra que todas as dificuldades que eu passei valeram a pena. Sou a pessoa que terá o papel de moldar quem ele será no futuro. E, apesar de ter uma grande responsabilidade, me sinto em uma jornada completa de amor e sabedoria. 

Hoje, sou chamada de “mãe”, uma palavra que faz eu me sentir realizada. Afinal, ser mãe é uma experiência única, e essa nova fase não só trouxe meu filho, mas também uma versão renovada de mim mesma.

          

Crônica escrita por Manuella Koehler


 

Vínculos inesperados

Sabia que ser mãe era difícil. Por 20 anos, dediquei minha vida a esse sonho. Sou boa nisso. Mas, há cinco anos, ainda não entendia a enormidade do desafio de tomar um papel que antes não era meu.

Hoje, ela pediu para ir embora. "Quero meu pai!", dizia. Contou da sua vida antes, de seus tios e suas irmãs. Perguntou quando seu pai iria buscá-la. "Logo", eu respondi. "Daqui a pouco". Ele não vem. 

Ela veio morar comigo há quase 5 anos. Não me chama pelo nome e, às vezes, eu penso se ela realmente já o soube. Eu me irrito muito. Choro muito. Ser mãe também pesa. Sinto que Deus me molda através de sua vida. Me usa.

Afinal, há mais bênção em dar do que receber.

Eu repito essa verdade até ela se tornar uma com meus pensamentos e se sobressair entre o cansaço e a intolerância que penetram meu coração. 

Comprei uma boneca para ela. Acho que foi uma das decisões mais difíceis que tomei nesses 5 anos. Ela brinca com a boneca, canta para ela, quer dar a comida do almoço para ela. Toda a vez que comemos, tenho que repetir: "Não, ela ainda só pode tomar mamá. Vamos comer juntos e colocar a neném para dormir". Ela pergunta se a boneca é minha filha, eu digo que sim.

Nossa rotina é sempre a mesma: a acordo, dou banho, ajudo-a a escovar os dentes e a trocar de roupa. Faço seu café da manhã, sempre com frutas e proteínas: ordem da nutricionista. Dou seus remédios, mas ela raramente consegue engoli-los, então, os mastiga. Quando reclama de frio, digo para buscar um casaco em seu quarto, mas ela volta segurando um rolo de papel higiênico, uma escova de cabelo, ou até um travesseiro. Esconde coisas em seu armário, e é extremamente possessiva com objetos que não são seus. "Isso é meu!", diz. "Meu pai que me deu!". 

Ontem, ela dormiu bastante. Isso foi bom, tenho um pouco mais de tempo para mim. Creio que mães devem se cuidar, descansar, tirar momentos para si mesmas. Isso, em minha casa, é raro. 

Meus filhos me ajudam, meu marido me ajuda. Às vezes, quando estamos muito cansados, levamos ela para a casa da minha irmã por alguns dias. Ela gosta de estar lá. Quero acreditar que também gosta de estar aqui. 

Porém, são nos momentos mais difíceis que agradeço. Por ela estar aqui, por eu poder ser essa figura de amor e proteção, por eu ter a capacidade de amá-la. Por retribuir o amor que ela já me deu. 

Então, levanto a cabeça, respiro fundo, e começo mais um dia. 

"Bom dia, mãe", chamo. "Vamos acordar?". 

Crônica escrita por Catharina Alvarez 


 

O tempo roubado

Observei, há alguns dias, minha mãe olhando atenta para a televisão enquanto assistia um filme de animação com a sua neta. Ela fazia comentários durante o filme todo, demonstrando as emoções que correspondiam às cenas que via. Me perguntei como ela conseguia ficar tão vidrada na história se, obviamente, aquilo não era real.

Com isso, pensei sobre as inúmeras lembranças que ela ainda guarda na memória e as dores que carrega no gigante coração. E o quanto a dura realidade lhe roubou o privilégio de permanecer, mesmo que um pouquinho, na imaginação.

Lembrei das tantas histórias que ela me contou, com a voz embargada e olhos lacrimejando.

Lembrei das bonecas que nunca teve e das espigas de milho que as substituíram.

Lembrei das suas colegas de aula, que a ridicularizavam por não ter o que levar de lanche.

Lembrei do quão cedo ela precisou aprender a cozinhar, para que seus irmãos não passassem fome, enquanto meus avós trabalhavam na roça.

Lembrei das vezes em que ela ficava, por longos dias, na casa de parentes que não a queriam por lá, e o quanto ela sentia saudade de casa.

Lembrei das vezes em que o tapa tomava o lugar do abraço, do acalento.

Lembrei da solidão, da vontade de ter tido aquela irmãzinha que se foi ainda na barriga da minha avó.

Lembrei da pobreza extrema, que foi tão real quanto a fome que sentiu.

Lembrei do quanto foi maltratada por não perceber a malícia de pessoas más.

Depois lembrei do quanto ela chorou sozinha, tão jovem, enquanto amamentava seu pequeno recém-nascido.

E lembrei que seu estudo foi dando espaço para os estudos dos filhos.

Que seus sonhos foram se escondendo, para dar espaço aos sonhos da família.

Lembrei que, quando brigo com ela por não tentar realizar seus sonhos, eu deveria me lembrar que a vida tomou tanto de si, que não há mais magia para sonhar, quanto menos, força para lutar.

Lembrei que a realidade lhe fez a vida tão dura, que quando assiste a um filme de animação, se permite imaginar um mundo que nunca viveu.


Crônica escrita por Francieli Baumgarten


 

Meu mundo do lado de cá 

Você pode ler esse texto e não entender quem eu sou - talvez eu prefira assim, mas não sei dizer, daqui meus pensamentos não são tão claros quanto os seus - por muito tempo eu fiquei confuso sobre onde, de fato, eu estava, e por quê me tornei um morador desse lugar.

         Eu sou como todos vocês, meu pai e minha mãe são as pessoas mais importantes da minha vida e eu tenho certeza de que também sou a da vida deles, consigo sentir todo o amor e carinho com o mesmo aconchego da minha cobertinha macia quando estou indo dormir, e é até melhor, pode acreditar.  

         Todas as noites, antes de dormir, eu e a mamãe conversamos, ela é tão linda e tem um cabelo azul muito maneiro - parece um algodão doce! É o que dizem… - a mamãe sempre fala de mim para todo mundo e até uma tatuagem para mim ela fez, é a favorita do papai, ele sempre diz isso, e continua falando e falando e falando… até dizer que me ama e dizer que promete todos os dias me dar carinho.

         Quando eu cheguei, todo mundo ficou muito feliz - me senti o cara mais bonitão do pedaço - eles diziam que eu fui tão planejado, tão esperado que estavam torcendo para que passasse o mais rápido possível  e eu pudesse logo brincar com todos os brinquedos do mundo inteirinho - não sei bem o que são brinquedos, mas parece ser muito legal… - mas  antes que eu pudesse conhecer, acordei aqui.

         Minha mamãe passou por uma perda gestacional retida, de acordo com a médica que cuidava de mim. Fui embora antes de completar vinte e duas semanas de gestação, minha mãe não sentiu dores - ainda bem, acho que isso deve ser bem ruim - mas eu não pude crescer dentro dela e nem usei alguma das roupinhas que ela comprou para mim.

         Eu não me apresentei antes, porque não tenho um nomezinho, a mamãe me chama de nenê - vou perguntar a ela se vocês também podem, prometo! - Eu não conheço o mundo lá fora, mas estou bem contente no meu lar aconchegante, mais conhecido como o coração da mamãe, onde eu sempre estarei.

        

Crônica escrita por Jaqueline Alves


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1 Comment


Filipe Vazquez
Filipe Vazquez
May 14

Que profundo... Parabéns, meninas! Vocês conseguiram trazer todas essas histórias de maneira profunda e com uma sensibilidade extraordinária.

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