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  • Foto do escritorMaria Vitória de Oliveira

E eu não sou uma mulher?

Abre Aspas, porque a LGBTfobia NÃO vai passar


Eu sempre gostei de assistir filmes da Disney, mas nunca gostei de não me identificar com as personagens. Na TV, eu só via mulheres loiras de olhos azuis e magras. 

Qual será a sensação de crescer se enxergando? 

Ao longo da vida, sempre fui pressionada para ser parecida com esse “padrão”. O meu corpo sempre teve curvas mais acentuadas e, por muito tempo, desejei escondê-lo. Pela gordura e por não me reconhecer dentro dele.

As pessoas sempre gostam de ver mágica ou algo diferente na TV, até porque, ela se parece mais com a nossa realidade ou talvez porque a sociedade prefere nos esconder na vida real. Não estar representada nunca significou que eu não existisse. A verdade é que apenas toleram a “nossa” existência. 

Olhar-me no espelho e não me reconhecer foi além de uma simples insegurança sobre o meu corpo; tornou-se uma questão de identidade. Eu nunca me senti completamente à vontade no corpo que me foi atribuído. Desde muito cedo tive que ser minha própria fortaleza contra comentários machistas e transfóbicos, produtos de um sistema patriarcal. “Que aberração”, eles dizem. Mas, eu não sou uma mulher, afinal?

Quantas mulheres transexuais, negras e gordas vemos sendo protagonistas hoje? Certamente poucas. E essa foi uma das maiores dificuldades que enfrentei ao me descobrir. Olhava ao meu redor e não me via, não me reconhecia. Como poderia encontrar meu lugar em um mundo assim? Acredito que o pior dentro disso tudo é saber que as maiores críticas não vem de fora, mas sim do laço familiar. 

Qual será a sensação de crescer se enxergando? 

Talvez eu nunca tenha visto ou até experimentado a sensação de crescer me enxergando, mas hoje, como profissional da educação, ensino os filhos dos pais conservadores, aqueles que abominam a minha existência diversas vezes, que o mundo é plural e diverso. E, apesar de ter em mente que a nossa geração é um plano perdido, a doçura da inocência de uma criança é o que dá esperanças para  continuar a batalha.

Hoje, sou chamada de “bocuda”, não por falar muito, mas por exigir respeito. Afinal, não quero tomar o lugar de ninguém, somente assumir aquele que sempre me pertenceu. Deixar raiar a mulher que sempre fui, a Maria Eduarda Priolli. 


Brasil assassina um LGBTQIA+ a cada 38 horas 

Sim, pouco mais de um dia, é isso que uma pessoa LGBTQIA+ enfrenta ao sair de casa. Será que vai voltar vivo? Os dados são de uma pesquisa divulgada pelo Observatório de Mortes e Violências contra LBGTQIA+ de 2023. No mesmo ano, foram 230 mortes associadas à LGBTfobia. O dia de hoje, 17 de maio, foi intitulado como o Dia Internacional Contra a LGBTfobia, foi escolhido porque em 1990 a Organização  Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). 

Já são 34 anos de luta, quase a mesma idade que a expectativa de vida de pessoas homossexuais (35 anos), segundo Dados do UOL.

Este dia não é apenas uma data no calendário, é um grito por justiça, um apelo à humanidade para que abrace a diversidade e rejeite o ódio. “Qual será a sensação de crescer não se enxergando?”. Cada olhar de desprezo, cada comentário maldoso, cada ato de violência física ou emocional deixa cicatrizes profundas. Quantos sonhos são sufocados? Quantas vidas são interrompidas pelo  preconceito? Será que pessoas héteros cis sabem qual é a sensação de crescer não se enxergando? 


(Dentre todos os mundos, fico eu com o colorido 🌈)

Por Maria Vitória Oliveira

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2 Comments


Maria Vitoria De Oliveira Mateus
Maria Vitoria De Oliveira Mateus
May 21

Ser LGBTQIA+ não é uma doença e não existe cura para aquilo que não tem tratamento!!

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Júlia Oliveira Mourão
Júlia Oliveira Mourão
May 18

Que texto poderoso!

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