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  • Foto do escritorEduardo Romani

Junho Verde: como a agropecuária e construção civil podem ser exemplos de sustentabilidade

Ambos os setores emitem grandes quantidades de gases poluentes. Porém, pequenas mudanças podem fazer a diferença para o planeta

Aprovada em 2021 no Brasil, a campanha Junho Verde tem como objetivo promover a importância da mobilização da sociedade pela preservação ambiental. Mais do que isso, o meio ambiente depende também da conscientização das empresas e produtores que trabalham diretamente com esses recursos para reduzir impactos ambientais e investir em soluções eficientes que colaborem para o futuro do planeta. Para isso, quais são as maneiras de proteger a natureza?

Vamos começar pela agropecuária brasileira: o setor representa 23,8% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com informações de 2023 do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Por conta disso, os maiores níveis de emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE), encontram-se nesse setor. E os números que representam a principal força motriz do país, infelizmente são convertidos em poluição.

  Conforme dados de 2022 do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o setor emite cerca de 617 milhões de toneladas anuais de gás carbônico, e mais de 15 milhões do gás metano, grande parte deste último provém dos arrotos de bovinos devido ao processo de digestão.

Mas, como podemos mitigar ou neutralizar as emissões de uma maneira eficiente? Bem, já possuímos uma resposta: a Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF), um sistema sustentável capaz de produzir carne, leite, madeira e grãos em uma mesma área, com pouca ou nenhuma emissão de gases poluentes.

Apesar de parecer novidade com as recentes pesquisas que comprovam as várias vantagens deste sistema, desde o século XVI o sistema era usado pelos europeus que cultivavam culturas anuais (trigo, cevada, etc), associadas às perenes (frutíferas e madeira) e também à criação de animais. No entanto, muitos produtores abandonaram esse sistema devido à mecanização agrícola e ao aumento na produção de grãos. 

Entretanto, com a maior necessidade de tornar a produção de alimentos sustentável, cultivar de forma integrada é, além de benéfico ao meio ambiente, uma possibilidade de obter maior rentabilidade nas propriedades.


Consórcio milho-braquiária em propriedade de Santa Izabel do Oeste, Paraná (PR). Muito usado por agricultores em todo o país, essa é uma das categorias dentro do ILPF, que é a Integração Lavoura e Pecuária (ILP) ou agropastoril. Com a colheita do milho, a braquiária se desenvolve mais e permite a criação dos animais | Crédito da foto: Eduardo Romani

De acordo com um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pecuária Sudeste de São Carlos (SP), para medir o potencial de se produzir carne bovina em carbono neutro, feito a partir da raça nelore em sistema silvipastoril (um dos sistemas dentro do ILPF, que une pecuária e floresta), chega à seguinte conclusão: é possível produzir carne carbono neutro com uma média de lotação de pastagem de sete a dez animais por hectare.

A pesquisa foi realizada com o eucalipto, que durante o ciclo de desenvolvimento até oito anos (idade ideal para corte) é capaz de reter o CO2 em toda a sua estrutura, desde as raízes, tronco e copa. A densidade de árvores no estudo foi de 333 árvores/ha, plantadas entre 2010 e 2011. 

Além da neutralidade das emissões, melhora o bem estar animal ao reduzir o estresse térmico. Afinal, o gado sob esta condição tende a consumir menos água e gasta menos energia para regular a temperatura corporal. 

Com isso, tanto agricultores quanto pecuaristas que adotem estes modelos com a integração de árvores na propriedade, podem lucrar também com o mercado de crédito de carbono. Uma forma de incentivar projetos sustentáveis, através de recursos financeiros das empresas que emitem grandes quantidades de gases do efeito estufa, e que devem investir em quem não emite poluentes.


Um novo olhar para o canteiro de obras

No mercado de carbono e em outros setores da economia, como a construção civil, a madeira tem uma contribuição significativa. O setor, pouco amigável com o meio ambiente, tem em materiais como o ferro e concreto, os principais responsáveis pelas emissões, além de serem recursos extraídos da natureza, ou seja, não renováveis. Ademais, há ainda a poluição indireta, com a energia usada nas máquinas e caminhões para remover os resíduos durante a construção.

Uma alternativa leve, prática e resistente, é a madeira engenheirada - madeira processada industrialmente com a finalidade de otimizar o desempenho da construção civil. Com uso mais difundido na Europa, América do Norte e Ásia, ela surgiu no começo do século XX como forma de reaproveitar madeira descartada. E além de ser renovável, aumenta a velocidade de construção de imóveis, pois as peças utilizadas são pré-fabricadas apenas com a montagem no local. Enquanto uma casa de alvenaria entre 80 a 100m² leva por volta de quatro a cinco meses para ser finalizada, com a madeira leva no máximo cinco dias. 


Mas não é apenas isto, a madeira engenheirada tem mais resistência do que materiais convencionais (aço, concreto) devido a forma de fabricação, conforme explica o arquiteto e especialista no assunto, Marcelo Aflalo. “A madeira é cortada em tiras/segmentos que são juntados em forma de ‘fingers’ formando réguas contínuas com 70, 100 metros. Depois elas são empilhadas e coladas por alta pressão. A forma com que ela é comprimida e as fibras no ângulo em que foram colocadas, fazem com que ela seja extremamente resistente a ruptura por tração e por carga. Então, ela se torna um material incrivelmente leve e rápido”.

Apesar da crença de que as chamas se espalham mais rápido na madeira, a verdade é que isso não passa de um mito. Por ser prensada e maciça, o fogo leva mais tempo para conseguir se espalhar pelo material.

“O fogo em relação a metálica, ele faz a estrutura derreter, ‘escoa’ esse é o nome técnico. A madeira vai queimando bem devagar e de uma forma linear. Então uma estrutura de madeira, ela vai demonstrando que está entrando em colapso, é um comportamento muito previsível”, explica a arquiteta Ana Belizário. 

Ainda que o valor para construir com esse material seja pouco atrativo no Brasil, a longo prazo, com mais investimentos no cultivo da madeira, demanda no mercado, e a conscientização das vantagens como o menor gasto com mão de obra, podem fazer com que a construção civil, junto com a agropecuária se tornem referência mundial em preservação do meio ambiente.  

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2 comentarios


Alcemar Dionet De Araujo
Alcemar Dionet De Araujo
08 jun

Parabéns pelo artigo de opinião, Eduardo! É uma leitura cativante e informativa, que combina uma análise detalhada com uma escrita envolvente. O texto apresenta dados relevantes de maneira clara e acessível, oferecendo soluções práticas e inovadoras para a preservação ambiental no Brasil. Seu estilo de escrita fluido e bem-estruturado torna o texto agradável e impactante.

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rubiazamainomata
07 jun

Interessante descobrir os caminhos sustentáveis que a agropecuária e a construção civil podem seguir!

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