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  • Foto do escritorAmanda Enae

Maio Laranja: um alerta para a segurança das crianças e adolescentes

Mais de cinco décadas de impunidade remontam o início da campanha nacional


Imagem: Freepik

Na década de 1970, uma garotinha de oito anos chamada Araceli Cabrera Sánchez Crespo vivia com sua família na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Sua história muda de percurso no dia 18 de maio de 1973, quando ela foi sequestrada, drogada, violentada sexualmente e assassinada. O crime permanece sem resolução e, após 51 anos, a história desperta questões sobre a impunidade e tornou-se o estopim para a criação da campanha Maio Laranja, mês do combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes.

O crime parou o país e fez a sociedade repensar na crueldade que cercou a menina. A revolta pairou nas escolas, lares e em todo o território nacional. Assim, surgiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Em 2000, com a aprovação de leis, o dia 18 de maio transformou-se no dia nacional da campanha. Para destacar a urgência em combater os abusos, a campanha ganhou cores. O laranja, uma cor vibrante, materializa o estado de alerta e foi escolhido com o intuito de chamar a atenção da comunidade. Em maio, fachadas de prédios, faixas, flores, balões e camisetas se tornam laranja para relembrar que a violência contra crianças e adolescentes não deve ser tolerada.

Palestras, debates, campanhas em redes sociais e eventos educativos tomam conta das escolas, das ruas, dos conselhos tutelares e das assistências sociais, em especial no dia 18 de maio. A “Campanha Faça Bonito – Proteja Nossas Crianças e Adolescentes”, faz do mês uma luta coletiva pelos direitos da população infanto-juvenil. 

A mudança de rotina dentro das escolas em prol à causa é feita para chamar atenção das crianças e adolescentes, para que elas possam pensar nos seus direitos e identificar situações de violência, conforme explica a pedagoga Melissa de Barros.

“O Maio Laranja é uma campanha que busca conscientização. Dentro das escolas, usamos a forma lúdica, a partir de personagens teatrais, rodas de conversas e filmes educativos. Dessa forma, os alunos debatem sobre seus direitos, identificam situações de perigo e compreendem que ali há o apoio de seus professores”. 

Mesmo após 51 anos, a indignação persiste. A impunidade do caso da menina Araceli provoca revolta. Para quem encara casos de violência diariamente, o sentimento nunca muda. “É angustiante e desesperador ver as crianças e adolescentes em insegurança e sem proteção, além de conviver com o ocorrido pela vida toda. Muitas acabam por nunca superarem sua condição”, completa a assistente social Adriane Fiorentin. 

“Revitimização” é um termo que foi criado para que a justiça se torne mais acolhedora com as vítimas, e a palavra significa, “o ato de a vítima passar por um sofrimento contínuo mesmo após a experiência de violência original ter cessado”. Revitimizar foi a palavra que colaborou para a criação da Rede de Proteção da Criança e do Adolescente. A nomenclatura dita a maneira de como tratar uma criança ou adolescente que foi violentada. A partir da Rede de Proteção, a Assistência Social e o Conselho Tutelar tornam-se os dois órgãos responsáveis pelas denúncias e os procedimentos após as denúncias.  

Após comprovado o caso de violência, a história percorre por dois lados: o da vítima e do agressor. Para a primeira, a Proteção Social Especial é encarregada de prover a segurança e encaminhar a vítima para o retorno do convívio social, comunitário, preocupando-se com a restauração dos danos. Para o segundo, é uma expectativa generalizada de que a punição seja dada e cumprida. O esquecimento em meio à poeira, acumulada há cinco décadas, é visto como um crime o qual a justiça não alcança.

As camisetas, os balões e as flores ficarão laranja até o fim do mês de maio. Mas, para muitas crianças e adolescentes, a vida perde as cores com as memórias cinzentas marcadas pela violência.


Não se cale. Nossas crianças e adolescentes são o nosso futuro. Denuncie, disque 100.

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