Nas passarelas da vida real, a oportunidade de realizar sonhos desfila
Reportagem finalista do 11º Prêmio Sebrae de Jornalismo, na categoria Jornalismo Universitário, na etapa Paraná!
Rasguei de novo! Desta vez, no zíper. Não posso ficar assim. Logo, sou dobrada e guardada em uma sacola, em cima daquele vestido com sobra de tecido na barra. Embarco em uma viagem com destino à costureira. Ao me encontrar com a máquina de costura, sei que logo estarei novinha em folha. Naquela sala, as roupas sorriem para a senhora de cabelo grisalho, o qual denuncia seus 37 anos de profissão.
Adriana Castro costura desde seus 12 anos de idade. Sua história com a moda iniciou em uma fábrica, onde trabalhava como auxiliar tirando fios e passando peças. “Com o tempo, fui observando as costureiras e pedi para sentar na máquina”, conta. Sua primeira experiência a desagradou: “de cara, costurei o dedo!”. Mas com dedicação e zelo, Adriana encontrou na costura uma forma de empreender.
Na rotina da costureira, passam por suas mãos calças, vestidos, saias, casacos, e muitas outras peças de roupa. Inclusive, seu trabalho chama a atenção na cidade de Toledo, onde reside. Por isso, várias lojas localizadas no município a indicam. Uma delas é a Gola Alta, loja de roupas, calçados e acessórios femininos. O estabelecimento inaugurou em 04 de dezembro de 2021, a partir dos esforços de Isabela Pelegrini e sua família.
Em passarelas desconhecidas, Isabela se aventurou no mundo da moda. No início, ela desenhava as próprias peças. Também criava o molde e enviava o material a uma fábrica. Então, recebia as roupas costuradas. Porém, o tempo a mostrou que, por hora, deveria seguir a linha das multimarcas. Com apenas 22 anos na época e baseada no apoio incondicional de seus pais, a empreendedora estreiou a Gola Alta.
“Foi um ano que ninguém conhecia mesmo, então foi bem lento o movimento”, relata. A partir do investimento nas mídias sociais e de indicações de clientes, os holofotes iluminaram a loja. As peças entraram para a lista de desejos de mulheres de Toledo e região. “A gente sempre pega produtos diferentes, que se conectam com nossas clientes”, acrescenta.
Além das roupas, a empreendedora criou sua própria marca de calçados, a qual leva o seu nome: Isabela Pelegrini. Seu pai sugeriu essa ideia, a qual a jovem, de início, não levou a sério. “Eu estava muito com a Gola Alta na cabeça”. Porém, ela decidiu materializar a sugestão e, em dezembro de 2022, lançou a sua primeira coleção.
Avant garde
Em francês, existe um termo que designa tudo que inova e se destaca à frente do tempo: avant garde. Em português, vanguarda. Isabela faz jus a esse conceito ao trabalhar com originalidade e proporcionar para as clientes peças que só encontram ali. Nesse mesmo sentido, estreia a Dandelaz Closet.
Quando o sonho de Eduarda Pascoal se uniu à ação, a Dandelaz Closet inaugurou. Arquiteta de formação, Eduarda utiliza todo seu conhecimento da primeira arte como inspiração para a moda. Com coragem e determinação, aos 32 anos, ela trocou a estabilidade de seguir a carreira na empresa da família pela instabilidade do empreendedorismo. “Depois que eu fiz Arquitetura, eu fiquei mais curiosa, mais criativa, e comecei a olhar para a moda”, relembra.
Diversas oportunidades preenchem o catálogo de carreiras na moda. Entre as tendências para as empreendedoras, estão a costura, comércio e consultoria de imagem. Eduarda seguiu as duas últimas possibilidades. Primeiramente, começou a trabalhar como consultora. No final de 2023, ela somou à sua profissão a gestão da Dandelaz.
“Eu sempre quis empreender”, complementa.
Hi-lo
Hi-lo significa desfrutar da criatividade utilizando peças opostas no mesmo look. A sigla vem de “high” e “low” (do inglês, “alto” e “baixo”). As roupas combinadas podem ser de luxo e fast fashion, esportivas e urbanas, de material pesado ou leve — a originalidade que manda. Esses altos e baixos fazem parte das passarelas, dos outfits, das vitrines e do empreendedorismo.
Das roupas para os números, um levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base em dados da Receita Federal, indica que quase meio milhão de brasileiros passou a empreender na moda nos dois primeiros semestres de 2020 e 2021. Cada um deles enfrenta desafios e recebe oportunidades específicas.
A costureira Adriana Castro, por exemplo, valoriza o high de empreender. “Hoje, consigo trabalhar em casa, fazendo o que amo e podendo auxiliar meu filho autista”, afirma. “Também tiro o meu próprio dinheiro para suprir as minhas necessidades e as do meu filho, sou muito grata à minha profissão”. Para além da estética, a moda transforma vidas.
Para Eduarda Pascoal, empreender na moda representa uma vasta possibilidade de criação. “Algo que eu gosto muito também é poder representar a nossa personalidade no vestir”, comenta. Como um espelho, a moda reflete a essência de qualquer pessoa. “O vestir é uma forma de se comunicar e eu acho que é muito positivo ajudar alguém a se comunicar de uma forma mais certeira”, explica a empreendedora.
Embora o high se destaque, o low ainda participa do empreendedorismo. Tanto para Isabela, quanto para Eduarda, um dos maiores desafios é alcançar o reconhecimento. A proprietária da Dandelaz relata que, como ninguém de sua família trabalha no ramo, precisa descobrir tudo ‘do zero’. “Qualquer movimento que eu faço é novo”.
Eduarda também conta que a unicidade de seu negócio também gera empecilhos. “Como eu vim para fazer algo diferente, não o que todo mundo faz, a estranheza atrapalha”, conta. Sua loja realiza com frequência eventos gratuitos para as clientes, como degustação de sabores gastronômicos com chef e workshop de pintura em taças. “Mas não precisa pagar para entrar? Então tem alguma pegadinha”, exemplifica.
Isabela acredita que divulgar suas marcas também pode ser desafiador. “Eu sou uma pessoa muito tímida e agora que estou começando a aparecer, gravar reels”, salienta. Ela sabe que as redes sociais destacam o comércio, mas confessa que ainda tem dificuldades.
Empreendedorismo feminino em números
Assim como Adriana, Isabela e Eduarda, existem muitas outras mulheres empreendedoras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Especificamente, segundo dados da pesquisa Empreendedorismo Feminino 2022, feita pelo Sebrae com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 10,3 milhões de empreendedoras no Brasil. O número vem do terceiro trimestre de 2022 e representa um aumento de 30% de 2021 para 2022.
De acordo com a mesma pesquisa, as mulheres empreendedoras que geram empregos subiram 30% entre 2021 e 2022. Além disso, 53% do empreendedorismo feminino se concentra nos serviços e 23%, no comércio.
Todos esses dados fazem do Brasil o 7º país com maior número de empreendedoras, segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), de 2020, coletados com apoio do Sebrae e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).
A mulher na moda e no empreendedorismo
Seja consertando uma calça jeans que rasgou no zíper, proporcionando a roupa dos sonhos ou adequando a imagem pessoal de uma cliente, a moda impacta positivamente tanto a vida das empreendedoras, quanto a dos consumidores. Esse é o caso de Adriana, Isabela e Eduarda, mulheres que decidiram tornar sua paixão, a moda, em profissão.
Entre conquistas e obstáculos, as passarelas do empreendedorismo representam a materialização de sonhos que são costurados em trajetórias de criatividade e dedicação.
Vida longa ao empreendedorismo feminino. Quantas vozes inspiradoras. Parabéns, Thauana. Texto surpreendente. Leitura prazerosa do início ao fim. Sim, a moda transforma a vida de mulheres empreendedoras! :D
Uma produção que abriu aspas para vozes inspiradoras :)
Histórias inspiradoras que mostram o poder do empreendedorismo e, claro, da moda! 🩷✨