Navegando pelo vício: a constante busca pelo prazer fugaz

A pornografia corrompe a mente, relações e a própria vida. Uma crônica escrita por Laura do Valle e Maria Eduarda Klok

A corrente do vício aprisiona o corpo e a mente | Créditos da imagem: Getty Images

Há um eco na alma humana que nem sempre queremos ouvir. Um ruído que perpassa os cantos mais sombrios da mente e que, muitas vezes, se instala como um visitante indesejado, modificando paisagens e distorcendo realidades. A pornografia é um desses ecos, sussurrando promessas de prazer instantâneo enquanto arranca pedaços da nossa essência.

Nas relações, a pornografia atua como um veneno lento, corroendo a confiança e a intimidade. Casais que deveriam crescer juntos se veem distantes, separados por expectativas irreais e desejos insaciáveis. “Sou casado há quase 8 anos. Tenho 38 anos e sou viciado em pornografia desde os 15. Agora, estou prestes a perder minha mulher, minha casa e minha vida graças ao vício. Estou no quarto de hóspedes enquanto ela chora pelos cantos e pensa se quer ou não continuar comigo”, desafaba edudl79, em um fórum na internet chamado “Estou no fundo do poço”. 

No mesmo fórum, outro homem acometido pelo mesmo problema questiona-se: “quanto tempo mais vou ficar preso dentro desse ciclo vicioso? Não quero mais isso para minha vida! Desde quando me conheço por gente, tenho contato com a pornografia. Minhas lembranças mais antigas são de cenas pornográficas que vi em filmes quando criancinha. Consequentemente, isso me transformou em uma pessoa tímida, com medo de conversar com outras garotas. Comecei a passar horas apenas vendo pornografia, isso me deixa me sentindo um inútil sem sonhos e planos para o futuro”. 

Na tela fria, um mundo se revela e um vício cresce. Começa, muitas vezes, como um escape: uma fuga temporária das pressões cotidianas. No entanto, o que era para ser uma pausa momentânea, torna-se uma compulsão.  

Às vezes, a busca pela satisfação sexual leva a caminhos que não imaginamos. Em um mundo de rápido avanço tecnológico, onde a informação e o entretenimento estão no alcance de um clique, os labirintos virtuais nos levam a destinos inesperados. Um advento que pode ser um portal para o conhecimento torna-se um espelho distorcido de desejos obscuros.

A internet traz atalhos para o dia a dia, seja no consumo de notícias ou como uma rede de interação. Mas, às vezes, o "buraco é mais em baixo" e é muito fácil se perder nas sombras da pornografia. Quando se trata da intimidade, a sociedade acaba por não levar a sério. O assunto é tratado como algo banal e sujo, trazendo mais inseguranças àqueles que buscam ajuda. A incessante sede por novas imagens e sensações que despertam o prazer sexual leva a um paradoxo sem fim, onde a realidade é ofuscada e cria-se uma linha tênue entre o real e a ilusão. 

Terry Crews, ator estadunidense e celebridade ao redor do mundo, compartilhou seu segredo, um peso escondido envolto de luxúria. Ele se via perdido, em um "segredinho sujo", imerso no universo pornográfico. Terry, em depoimento ao público, disse:

"A pornografia bagunçou demais a minha vida, de várias formas. E sabem, isso se tornou um problema que eu não contava para ninguém, era o meu segredo, ninguém sabia e isso permitiu que ele crescesse e ficou ruim”.

Nos abismos da mente, o vício faz morada. O coração se apequena e a alma é dilacerada. Relações são desfeitas e a vida é devastada, como uma tempestade que deixa tudo arrasado. Dias e noites sob a luz de uma tela totalmente à mercê da pornografia. Uma ânsia por um prazer fugaz, a qual a busca, contraditoriamente, é constante.