Em meio à correria do dia a dia, uma pausa para refletir sobre os pequenos detalhes da vida. Uma crônica escrita por Rubia Inomata
São seis e meia da tarde. O sol começa a se pôr. As suaves pinceladas de laranja e tonalidades quentes do verão se misturam com o início da escuridão da noite. Uma verdadeira pintura de Claude Monet é criada à minha frente, em pleno horizonte que, em breve, cederá espaço para as estrelas de Van Gogh. Enquanto o céu está em festa de cores e tons, abaixo dela, feixes de luzes amarelas passam a iluminar o centro da cidade. Os faróis acendem.
No caminho de volta para casa, depois de horas de ofício, respiro em calmaria. A sensação da brisa amena, vinda depois de uma tarde intensa de calor, bate na janela semiaberta do carro. Impossível abri-la por completo: o perigo pode surgir a qualquer momento. Mas, vale a pena correr um pequeno risco e deixar que o vento entre pela janela esquerda e saia pela direita, criando uma corrente de ar mais fresca do que o próprio ar condicionado poderia proporcionar. A mente, antes preenchida com assuntos de trabalho, se esvazia com a brisa refrescante.
Ao percorrer o trajeto, a avenida principal da cidade encontra-se um pouco movimentada. O fluxo maior ocorre minutos antes, quando os trabalhadores saem com pressa, na ânsia de chegar mais cedo em casa para finalmente descansar, ou se divertir. Lojas e estabelecimentos comerciais estão de portas fechadas, enquanto restaurantes e bares iniciam sua jornada noturna.
Sinal vermelho. Paro o carro e observo as pessoas andando pela calçada. Um casal, uma família e, em seguida, uma moça com uma camisa do local onde trabalha. Vestia uma calça jeans bem discreta e seus cabelos formavam um coque bagunçado com a ajuda de uma caneta. Seus óculos pareciam estar prestes a cair de seu nariz, mas, aparentemente, isso pouco importava para ela. O sorriso estampado em seu rosto e os fones de ouvido enroscados em um emaranhado de fios revelavam a mais singela alegria.
Singela, pois nada mais parecia importar. O uniforme desconfortável e a calça apertada não a incomodavam. O cabelo bagunçado não fazia a menor diferença. O que parecia importar, de fato, era que em uma pequena (ou longa) caminhada, ela chegaria em casa. Casa de quem? Dela ou de alguém muito especial. Mas, nem é possível afirmar se está rumo ao seu lar ou a um happy hour.
As suas passadas acompanhavam algum ritmo. Uma batida que se tornou sua trilha sonora. Era a moça na passarela, em cima de uma calçada esburacada, um pouco torta e estreita demais. Porém, para ela, isso não importava. Não queria ser modelo, apenas caminhava radiante para o seu desconhecido destino. Ou melhor, ela sabia, eu que não posso confirmar.
Sinal verde. Os carros à minha frente aceleram e seguem pela avenida. Acompanho a moça pelo retrovisor e dou partida, rumo ao meu lar. No caminho de casa, trafego pelas ruas, observo o horizonte e as pessoas ao meu redor, em busca daquela singela alegria, a qual nada importava, apenas o meu destino final.
No caminho de casa, dentro do carro, sempre vem à mente diversas reflexões. Apesar da loucura no trânsito, dirigir (às vezes) é uma terapia! Ahahahaha
🥺 texto maravilhoso
Linda crônica!