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Para além dos pixels: como a compulsão por tecnologia impacta nas relações interpessoais

Necessidade de utilizar a internet para a realização das atividades diárias potencializa problemas de saúde mental e depressão. Escrito por Filipe Vazquez e Manuella Koehler

Uma família em volta da mesa, preparada para uma refeição, pode ter inúmeros significados. A depender do lugar, ano e contexto, o que se espera no ambiente é amor, afeto, atenção, costumes e risadas. Em outros casos, família reunida é sinônimo de discussão, intrigas e problemas. Porém, recentemente, tem-se observado outra situação: o silêncio. Ainda que estejam no mesmo local, a concentração de todos em volta dos smartphones, os fazem esquecer que existem outras pessoas no ambiente.

Apesar da evolução que os aparelhos digitais nos proporcionaram, existem algumas questões que eles ocasionam e que são prejudiciais. O uso excessivo desses equipamentos pode causar a dependência. Segundo uma pesquisa realizada em 2022 pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (NUBE), 40% dos jovens brasileiros não conseguem ficar mais de um dia sem usar o celular.

Segundo a psicóloga Ana Maria Muxfeldt, a compulsão é um comportamento em que o indivíduo não consegue controlar, ou seja, que ele não consegue dominar. Pelo  contrário, o comportamento é que domina o indivíduo. Normalmente, a compulsão tem um mecanismo chamado de ansiogênica, que causa angústia e ansiedade. Para que essa sensação passe, o indivíduo toma determinado comportamento que, nesse caso, é utilizar o smartphone.

“Para se falar de compulsão de redes sociais, também é necessário falar sobre compulsão por tecnologias, já que as redes sociais estão nas nossas mãos por conta dos meios tecnológicos. Em muitos casos, quando o indivíduo que sofre de compulsão por tecnologia fica sem redes sociais, ele supre suas necessidades nos jogos e também nas notícias. Isso dá a sensação de alívio temporário. Mas, sem perceber, já se passaram horas na frente da tela. Tudo isso provoca mais ansiedade, por ter deixado de fazer algo mais importante neste tempo”, explica Ana Maria.


Um relato real

Em Cascavel, Valéria (nome fictício) e sua família vivem uma rotina monótona. Todos acordam, estudam ou trabalham, voltam para casa e repetem tudo no outro dia. As poucas horas que possuem para terem uma troca de palavras, se resumem ao horário de almoço e antes de dormirem. Porém, mesmo nesses momentos, as telas se fazem presentes no local. 

Durante a pandemia, iniciada em 2020, o uso de smartphones se tornou essencial, já que as atividades como o trabalho e escola, tornaram-se totalmente onlines. Isso afetou a casa de Valéria e sua família de maneira negativa. 

Eliane (nome fictício), mãe de Valéria, explica como funcionou esse período em sua casa. "Por mais que estávamos no mesmo lugar, cada um tinha os seus afazeres, então a gente acabou se distanciando", relata. Contudo, isso não foi um caso exclusivo na casa de Valéria e Eliane. A psicóloga Ana Maria conta que esse tipo de situação é bastante citada nas seções de terapia.

"É muito comum em consultórios atender adolescentes que são mais introvertidos. No período da pandemia passavam muito tempo em casa e, depois desses quase 2 anos, não conseguiram mais sair do quarto", informa.

         Assim, Valéria, que tinha apenas 14 anos na época, viu-se cercada por estímulos do celular e não conseguiu lidar com isso. "Ela era só uma adolescente. Para mim, estava tudo bem ficar ali no celular. Não estava percebendo que isso afetaria  ela de alguma forma", salienta. No mesmo ano, Valéria reprovou na escola pela falta de presença e por não entregar as atividades requisitadas pelos professores. 

Após o estopim, a família de Valéria buscou ajuda profissional, o que, segundo Ana Maria, é o correto a se fazer. "Existe um diagnóstico descrito para isso, que se chama compulsão por tecnologia. É sempre recomendado que quando há alguma perda, ou seja, quando o indivíduo está se prejudicando de alguma forma por causa das redes sociais, que ele procure um psicólogo ou psiquiatra para realizar o acompanhamento". 

Não basta somente acompanhamento. Para ele surtir efeito, é necessário uma mudança no ambiente em que o paciente vive. Para isso, todos os moradores da casa também precisam passar por essa transição.

"Não adianta o paciente sair do consultório com algum tipo de recomendação, mas, quando chega em casa, todos estão vidrados na tela do celular", finaliza Ana Maria.

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1 opmerking


rubiazamainomata
29 jun.

A tecnologia traz muitas vantagens para nós... em compensação, precisamos cuidar com os limites dela em nossas vidas. Até que ponto é saudável?

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