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  • Foto do escritorThauana Marin

Pontos, linhas e tecidos

Nas passarelas da vida real, a costura transforma e marca a vida de mulheres autênticas 


Cada ponto, linha e tecido conta a história de mulheres criativas e dedicadas | Imagem: Pexels

“Venho de uma família cheia de criatividades”, afirma a manicure e costureira conhecida como Preta desde seu nascimento. A mulher de cabelos castanhos e olhos verdes como esmeraldas esteve rodeada pelas mais diversas artes — como costura, artesanato e pintura — há 57 anos, sua idade. “Minha vó fazia grinalda e arranjos para noivas, desde o início do processo para grinalda, cortar a flor, golfar, montar…”.

A publicitária Taciane de Ávila, de 30 anos, também herdou suas habilidades artísticas. “(Minha mãe) é boa com escrita, desenhos. E, também, com três filhas precisava economizar nas festinhas de aniversário, então ela fazia tudo com a mão e ensinou a mim e minhas irmãs a seguirem por esse caminho”, conta. Aliás, sua família não era apenas criativa por natureza: sempre incentivou a pequena Taciane no caminho da arte. “Eu fiz aulas de dança gauchesca por seis anos, curso de pintura em pano de prato, aulas de teatro e tentei (tentei muito) tocar instrumentos”.

A máquina de overloque costura e chulea simultaneamente — há quem já tenha cometido o erro de passar um tecido dobrado nela e nunca mais conseguiu separá-lo. É isso que acontece com familiares unidos por uma afinidade, como a costura: tornam-se inseparáveis.

Dessa forma, Taciane já está incentivando sua pequena filha Teodora, de quase cinco anos de idade, nesse trajeto. “Ela demonstra muito interesse, principalmente por pinturas e pela costura e sempre comenta que quer aprender. Também ama música, temos teclado e ukulele em casa, ela sempre pega um dos dois e fica tocando, percebendo os sons.”

Dessa forma, os vínculos são fortalecidos (mesmo entre quem não é do meio artístico). “Meu esposo não é envolvido com arte, ele é da área de informática, muito nerd, mas ele sempre traz ideias de coisas para que façamos com ela (Teodora) ou compra produtos que sabe que eu vou poder usar, tipo retalho de tecido, aviamento, pincel."

Outra dádiva do coser é poder presentear outras pessoas com uma peça única. Preta, por exemplo, agracia seus filhos e netas com roupas de sua autoria. A costura entrou na sua lista de afazeres há pouco tempo, no entanto, desde que aprendeu essa técnica, inventa roupas para si e para sua família.


Costurando emoções

Assim como a arte influencia as relações familiares, também aprimora a saúde mental. Preta garante que a costura a tirou da rotina de uma forma bastante positiva.

“Você está sempre pensando como (a peça) é feita, cria mentalmente como quer e põe em prática, então ajuda muito na saúde mental e no teu bem estar, é gratificante”, comenta.

Esse sentimento recompensador é traduzido pela ciência. Uma publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2019, explica que a arte previne o estresse, reduz a ansiedade, aprimora a resiliência e a qualidade de vida, promove a autoestima, está relacionada com o rejuvenescimento, entre muitos outros benefícios. A lista é tão grande que precisaria de metros e metros de tecido para estampá-la.

A publicitária Taciane também percebeu como a costura (e outras artes) contribuíram para o seu bem-estar. “Todas as minhas atividades manuais, como a pintura, que eu ainda pratico, me fazem muito bem. Quando eu não preciso me preocupar com prazos ou regras, faço por mim ou por quem amo, sinto que minhas energias são renovadas, minha ansiedade diminui, me desestresso. Enfim, sempre que faço como hobby, me sinto muito feliz”.

Mas nem todas as estampas são floridas. A publicitária explica com tristeza como aquilo que amava se tornou um fardo. A história começa em 2020.

“Além da pandemia, isolamento e tanta incerteza, eu tinha uma filha de um ano para criar e um divórcio para lidar. Muitas vezes não sabia o que fazer, mas sempre que eu me sentava em frente à minha máquina de costura velha, eu conseguia esquecer tudo e fazer o que eu amava”.

No final daquele ano, ela relata com emoção que conseguiu trocar sua máquina por uma nova em folha — era uma vitória. Na época, tinha uma loja on-line. “A loja era de produtos para casa. Comecei com fronhas de cetim, depois fui vendendo toalhas de mesa, jogos americanos, guardanapos, itens personalizados,  lençóis e perfumadores de ambiente”. A maior parte dos produtos ela mesma costurava, outros eram terceirizados.

Porém, a comercialização de sua arte se tornou prejudicial para a saúde emocional. “A minha fonte de desestresse se tornou minha maior ansiedade e eu comecei a ter raiva da máquina de costura. Foi quando eu decidi que era hora de parar, não queria ter esse sentimento". Assim, ela tomou uma dura decisão: encerrar sua loja. Apesar de ter voltado a atuar como publicitária, pretende retornar às suas costuras particulares: “no tempo que eu posso e sem regras”.


Cada ponto conta uma história

Toda costureira tem uma longa história com seu ofício — desde o momento de aprender essa técnica até a sua profissionalização. Cada linha, botão e tecido carregam conhecimentos únicos, unidos por uma base em comum: a criatividade.

“Aprendi a costurar sozinha, imaginando o que eu queria. Desenhava, passava para o molde e cortava o tecido, dava certo”, menciona Preta. Totalmente autodidata, ela costura como um complemento financeiro e também para incluir uma atividade criativa na rotina.

Já Taciane somou seus aprendizados individuais com cursos. “Eu aprendi a costurar, de fato, em 2020, quando fiz um curso de costura em uma escola aqui de Cascavel. Antes disso, eu havia tentado por conta, mas se tratando de coisas mais técnicas, como traçar moldes, saber detalhes da máquina… eu tenho dificuldades em entender, por isso, preciso de alguém detalhando ao máximo". Ela fez apenas três aulas porque o isolamento social imposto devido à pandemia a obrigou a seguir sua jornada sozinha. Em casa, ela continuou lapidando o que tinha aprendido. “Foi uma ótima decisão”, afirma.


“De onde saiu essa ideia, mulher?!”

Com criatividade e dedicação, um guarda-roupa comum se transforma em um portal repleto de peças autênticas. Uma delas é a capa que protagoniza um episódio marcante da vida de Taciane, que foi criada para uma data muito especial: seu casamento.

“No meu casamento do civil, criei uma capa para usar com a calça de alfaiataria e o cropped, foi o maior sucesso no cartório e entre os convidados. Todos diziam ‘de onde saiu essa ideia, mulher?!’”, narra com humor.

A autenticidade faz parte da costura, e esse poder a diretora de arte, Sophia Zdebski, tem de sobra. A jovem de apenas 19 anos tem um estilo marcado pelos laços, rendas e saias. Criativa por natureza e profissão, ela customiza suas roupas e, assim, torna cada peça única. “Em quase todas eu sempre faço alguma customização, coloco algum ‘penduricalhozinho’, eu sempre tento colocar alguma coisa a mais”, explica.

Para suas criações, ela se preenche de referências. “O Japão dos anos 90 e 2000, o quanto o estilo era muito aberto, fora do padrão”, menciona. Pequenos influencers e as pessoas que ela conhece quando viaja também são fontes de ideias. Ela não utiliza a costura para construir peças, mas para destacar aquelas que já estão prontas. Haja criatividade!


Infinitas possibilidades

Assim como Sophia, Preta e Taciane também trabalham a imaginação diariamente. A manicure conta que construiu seu próprio boneco de modelagem: “fiz com enchimento de fibra e o corpo com TNT”. Já Taciane está se planejando para desenhar em sua nova residência. “Uma vez fiz uma árvore numa parede de casa, com um pincel de maquiagem”, exemplifica.

A arte propicia infinitas possibilidades a quem acolhe. Como recompensa, proporciona excelentes benefícios para a saúde mental e para o vínculo familiar. Isto posto, Preta confirma que suas atividades artísticas unem o útil e o agradável. Deve ser por isso que quando questionada se está envolvida com a arte da costura, ela respondeu: “estou, graças a Deus!”.


19 visualizações2 comentários

2 Comments


Mariele Santos Cardoso
Mariele Santos Cardoso
Jun 01

Excelente thau, arrasou😻

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Alcemar Dionet De Araujo
Alcemar Dionet De Araujo
May 27

Finalizo a leitura desse texto com um sorriso. Que os pontos, linhas e novos títulos possam ecoar. Parabéns, Thau.


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