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Foto do escritorMaria Vitória de Oliveira

É Assim que Se Acaba com a vida de uma mulher

Abre Aspas, porque precisamos falar sobre violência contra as mulheres


A cada 24 horas, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência em 2023. | Imagem: Júlia Mourão

“É Assim que Acaba” não é um livro de romance 

“Quinze segundos. Esse é o tempo necessário para mudar completamente tudo que você conhece sobre uma pessoa. Quinze segundos". (É Assim Que Acaba)

- Ele te deu um tapa porque você riu;

- Ele te empurrou de uma escada;

- Ele te mordeu;

- Ele tentou te estuprar;

- Você precisou levar pontos por causa dele;

- Seu marido te machucou fisicamente mais de uma vez. E isso teria se repetido várias e várias vezes.

(É Assim Que Acaba)


Sendo o maior sucesso dos livros da autora Colleen Hoover, “É Assim que Acaba” foi lançado em 2016, mas conquistou o público algum tempo depois e foi o livro mais vendido de 2022 e o segundo de 2023, de acordo com a PublishNews.

A trama é contada em primeira pessoa e segue uma série de acontecimentos da protagonista Lily Bloom. Ela teve uma infância difícil vendo sua mãe passar por um relacionamento abusivo com seu pai. Quando adulta, Lily conhece Ryle Kincaid, um neurocirurgião carismático e ambicioso, e os dois iniciam um relacionamento intenso e apaixonado. No entanto, a aparente perfeição de Ryle esconde traços de um comportamento agressivo que começam a surgir com o tempo. Abordando de uma maneira sensível e realista a violência doméstica e a complexidade das relações abusivas, o livro mostra como o abuso pode surgir em relacionamentos que inicialmente parecem perfeitos, desafiando os estereótipos comuns. E, apesar de tão romantizado pelo público, esse, certamente, não é um livro de romance. 


Um chamado à reflexão sobre os ciclos de abuso

A história de Lily é um testemunho de força e esperança, mostrando que, mesmo nas circunstâncias mais sombrias, é possível encontrar uma saída e recomeçar. No entanto, mais que isso, Lily mostra a realidade de estar dentro de um relacionamento abusivo, como não é tão simples assim e os motivos que acarretam  muitas mulheres seguirem nele. Além disso, também faz um chamado para que as mulheres questionem o patriarcado.

“As pessoas passam tanto tempo se perguntando por que as mulheres não vão embora. Onde estão as pessoas curiosas do porquê os homens serem violentos? Não é aí que deveria estar a culpa?”. (É Assim que Acaba)

 

Por que é tão difícil para uma mulher sair de uma relação abusiva?

“Às vezes parece mais fácil continuar correndo nos mesmos círculos familiares, em vez de enfrentar o medo de pular e possivelmente não cair de pé”. (É Assim que Acaba)

A autora, Colleen Hoover, traz nitidamente a dificuldade em sair dessa relação ao decorrer da trama. A psicóloga Caroline Lolli explica que as mulheres não deixam a relação abusiva por diversos motivos, como insegurança, dependência emocional, filhos, medo de não ser relacionar mais, mas que muitas vezes é a “esperança que o comportamento do parceiro mude, de que ela possa ajudar ou de um tratamento milagroso”.

“Não são as ações de uma pessoa que mais machucam. É o amor. Se não houvesse amor ligado à ação, a dor seria um pouco mais fácil de suportar”. (É Assim que Acaba)

 

Assim como na vida real, no livro, Lily se culpava pelas atitudes de Ryle, porque ele sabia mascará-las muito bem.

 

“A escada. Ele me empurrou.

-Você caiu da escada.

Mas eu não caí.

Ele me empurrou. De novo”.

(É Assim que Acaba)


A cada página virada e a cada frase lida das agressões sofridas por Lily, de seu marido Ryle, a autora consegue trazer a perspectiva de como é, para uma mulher, estar em um relacionamento abusivo. E esse é o primeiro passo para um feminicídio. Antes disso, a vítima pode ainda passar por outros tipos de violência: agressões, violência sexual, psicológica e ameaças. De certa forma, no livro, a autora consegue fazer um final feliz e trazer uma mensagem de esperança para o recomeço, o que, muitas vezes, não é o que acontece na vida real de muitas mulheres. “Relacionamentos abusivos sempre envolvem um desequilíbrio de poder e controle. O agressor usa palavras e comportamentos intimidadores e ofensivos para controlar a parceira”, enfatiza Lolli.

A cada 24 horas, ao menos oito mulheres são vítimas de violência

A cada 15 horas, uma mulher morreu em razão do gênero por parceiros ou ex-parceiros (72,7%), no Brasil, em 2023, segundo dados da Rede de Observatórios da Segurança.

No primeiro trimestre, em Cascavel, já foram 173 mulheres que foram vítimas de violência, dois feminicídios e 537 pedidos de medida protetiva.

A Central de Atendimento à Mulher, “Ligue 180”, recebeu, ao longo do ano de 2023, um total de 568,6 mil ligações, o que equivale a 1.558 ligações diárias. Só no Paraná, foram 3.912. Em janeiro de 2024, foram realizados 48.560 atendimentos telefônicos e 810 via WhatsApp. O total de denúncias foi de 10.852, segundo o Ministério da Mulher.

Ameaçadas, agredidas, torturadas, ofendidas, assediadas e mortas, esse é o destino de uma mulher? São inúmeras as violências sofridas pelas mulheres todos os dias e isso precisa acabar. E É Assim que Acaba.

 

“Minha mãe passou por isso.

Eu passei por isso.

Mas nem morta vou deixar minha filha passar por isso.

-É assim que acaba. Nós vamos colocar um ponto final nisso”.

(É Assim que Acaba)

 

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1 commentaire


Maria Vitoria De Oliveira Mateus
Maria Vitoria De Oliveira Mateus
21 mai

Precisamos parar de romantizar relacionamentos abusivos!!!

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